Charles Hoskinson, o fundador da Cardano e um dos cofundadores iniciais do Ethereum, diz que o sistema de saúde americano não está quebrado — ele está funcionando exatamente como foi projetado. E isso, segundo ele, é o problema.
“A saúde está fodida nos EUA. Está fodida. Todo mundo sabe que é verdade,” disse Hoskinson em entrevista à CoinDesk TV na conferência Rare Evo, em Las Vegas. “Ainda assim, todos tentam manter o sistema funcionando porque é simplesmente muito lucrativo.”
Enquanto possa soar como uma crítica dura, Hoskinson está colocando seu dinheiro onde fala: ele está investindo US$ 200 milhões em um centro médico em Gillette, Wyoming, que hoje atende cerca de um terço da população da cidade.
Qual é a visão dele para esse investimento multimilionário? “Se não puderem pagar, não cobrem deles”, disse.
O problema ‘Horrível’
Então, quais são as principais falhas do sistema de saúde atual que o levaram a investir milhões em um novo tipo de sistema? Segundo Hoskinson, é a forma como os médicos são pagos.
“Todos os incentivos financeiros são horríveis e inadequados dentro da área de saúde,” disse ele à CoinDesk TV, citando um exemplo de como os médicos são incentivados a tratar seus pacientes da mesma forma, independentemente de suas necessidades.
“Vamos supor que você tenha 75 anos e enfrente várias comorbidades; você não está se sentindo bem… Seu médico receberá a mesma quantia de dinheiro para vê-lo… que para ir atender uma garota de 16 anos com uma ITU e que precisa apenas de cinco minutos e alguns antibióticos.”
Essa estrutura econômica, ele afirmou, desencoraja a coordenação, a conversa e o planejamento de longo prazo. “Eles têm todo o incentivo para manter você o mais doente possível por quanto tempo puderem, porque desenvolveram tratamentos crônicos para tudo isso,” afirmou Hoskinson.
E qual é a fonte que embasa suas contundentes afirmações sobre o sistema de saúde? “Porque meu pai é médico, meu irmão é médico. O avô era médico, o tio também é médico,” disse Hoskinson.
A solução centrada no paciente
Para corrigir isso, Hoskinson sugere construir uma instalação centrada no paciente, não em códigos de cobrança ou burocracias, e usando tecnologias de ponta como inteligência artificial e blockchain.
“Vamos construir uma clínica onde colocamos o paciente no centro. Formamos equipes de cuidado, usamos IA e fazemos tudo para tornar o atendimento centrado no paciente acessível.”
A IA, para esse novo sistema, será usada para apoiar — não substituir — os médicos. “Todos os dias ela pode incorporar o conjunto total de todo o conhecimento médico, e você pode ter agentes representando cada especialidade da medicina… e fornecer um plano de cuidado atualizado no início do dia ao provedor.”
O sistema, ele disse, pode detectar “pistas sutis no histórico do paciente” e ajudar na auditoria em tempo real. Ele também descreveu planos para ferramentas de IA que podem sinalizar interações entre medicamentos, transcrever visitas de pacientes e, eventualmente, atuar como um “companheiro de IA” para ajudar as pessoas a interpretar rótulos de alimentos, medicamentos e suplementos.
A arquitetura do projeto pode envolver também blockchain.
Hoskinson mencionou divulgação seletiva e tecnologia de conhecimento zero — ferramentas criptográficas que podem verificar fatos (como idade ou cidadania) sem expor os detalhes pessoais subjacentes. “Você pode satisfazer a intenção e a filosofia desses compartimentos sem revelar o cliente subjacente,” disse ele.
Ele também planeja tornar todo o modelo de código aberto — incluindo protocolos e software — para permitir a replicação em outros lugares. “Não estamos aqui para ganhar dinheiro com isso,” disse Hoskinson. “O objetivo é tornar o software open-source, liberar o software, você sabe, levar esse sistema de atendimento para existir por aí.”
Ele também defende uma redefinição mais ampla de políticas. “O seguro de saúde deveria funcionar da mesma forma que você o compra quando fica realmente muito doente,” disse Hoskinson. “Não faz sentido dizer que ele está lá apenas para quando você se corta ou para quando você quer contracepção ou algo assim.”
No entanto, Hoskinson afirma que esse novo modelo de saúde está enfrentando resistência do sistema médico tradicional.
“O hospital lá está tentando nos eliminar,” alega.
“Eles fazem de tudo para tornar a nossa vida miserável. Hum, eles não credenciam nossos médicos. Então leva de seis meses a doze meses para obter credenciais para que eles pratiquem medicina. Trago um cirurgião mundialmente famoso e um cirurgião de transplante. Eles não vão lhes credenciar,” disse Hoskinson.
Embora a luta de Hoskinson para reformular o sistema de saúde possa parecer um cenário de Davi contra Golias, ele vê isso como parte do legado dele e da família. “Eu investi US$ 200 milhões do meu próprio dinheiro na minha clínica e temos construído há três anos, e eu realmente quero resolver esse problema,” disse ele.
“Acho que é meu legado, é o legado da família e é também a coisa mais importante na América.”
