O Japão está se preparando para incluir as criptomoedas no guarda-chuva de sua Lei de Instrumentos Financeiros e de Câmbio (FIEA), sinalizando a mais ampla reformulação regulatória do setor desde que o país se tornou um dos primeiros a adotar negociações de criptomoedas.
As autoridades afirmam que a medida visa fechar lacunas legais, fortalecer a proteção aos investidores e coibir operadores não registrados que se proliferaram pelo mercado.
Investidores de varejo impulsionam o mercado de cripto do Japão, exigindo salvaguardas
De acordo com um documento de discussão divulgado pela Agência de Serviços Financeiros (FSA) do Japão na terça-feira, a natureza de investimento dos ativos de cripto está alinhada com desafios tradicionalmente tratados sob a Lei de Instrumentos Financeiros e de Câmbio (FIEA).
A agência sugere aproveitar regras de divulgação, poderes de fiscalização e mecanismos de proteção ao investidor sob o arcabouço de valores mobiliários para regular ativos digitais.
De acordo com dados da Agência de Serviços Financeiros (FSA) do Japão, as exchanges de cripto domésticas agora administram mais de 12 milhões de contas, com depósitos de clientes superiores a ¥5 trilhões (US$34 bilhões).
No entanto, mais de 80% das contas possuem menos de ¥100.000 (US$670), destacando um mercado fortemente orientado ao varejo com investidores de pequeno porte mais expostos a fraudes e divulgações inadequadas.
Pesquisas mostram que 7,3% dos investidores japoneses possuem criptomoedas, uma parcela superior à daqueles que investem em FX ou títulos corporativos.
Por volta de 70% dos investidores em cripto ganham menos de ¥7 milhões (US$46 mil) por ano, enquanto 86% dizem negociar com a esperança de valorização de longo prazo. Autoridades argumentam que esse viés demográfico torna as salvaguardas mais urgentes.
Sob as regras atuais, as exchanges de cripto operam principalmente sob a Lei de Serviços de Pagamento, que regula liquidação e custódia, mas não impõe requisitos de divulgação por parte dos emissores.
Reguladores alertam que white papers e documentos de projetos costumam conter informações vagas ou enganosas, com lacunas frequentes entre as alegações publicadas e o código real.
Ao incorporar ativos digitais à lei de valores mobiliários, o governo busca impor divulgação padronizada, coibir negociações com informações privilegiadas e ampliar as penalidades já usadas nos mercados de ações.
O plano trataria duas categorias de cripto de forma diferente. Tokens emitidos para levantar fundos para projetos ou negócios, como aqueles vendidos em ICOs, estariam sujeitos a regras rígidas de divulgação por parte dos emissores.
Em contraste, ativos descentralizados como Bitcoin e Ether, que não possuem emissor central, estariam sujeitos às obrigações em nível de câmbio, exigindo que as plataformas forneçam informações confiáveis e sinalizem riscos.
A captação não registrada tornou-se uma preocupação premente. Autoridades relatam um aumento acentuado de promoções fraudulentas, incluindo seminários online, “salões” de investimento e grupos em redes sociais.
A linha direta de consumidores da FSA recebe mais de 300 reclamações relacionadas a cripto por mês, representando mais de 10% de todas as consultas financeiras.
Casos costumam envolver investidores sendo atraídos para plataformas no exterior, apenas para enfrentar congelamentos de saques ou exigências de “taxas de garantia”.
Para enfrentar tais abusos, o arcabouço da FIEA permitiria que os tribunais emitissem medidas cautelares de emergência contra operadores não registrados e introduziria multas de até ¥500 milhões (US$3,3 milhões) para corporações, juntamente com penas de prisão de até cinco anos para indivíduos.
As exchanges também seriam obrigadas a submeter dados de transações aos reguladores, enquanto violações como manipulação de mercado, divulgação de informações falsas ou negociação com base em informações privilegiadas acionariam penalidades já familiares aos mercados de valores mobiliários.
As autoridades enfatizam que o novo arcabouço não restringirá o uso de cripto como meio de pagamento, mas garantirá que a atividade de investimento seja regida pelos mesmos padrões de transparência e equidade que os valores mobiliários tradicionais.
Japão pretende classificar cripto como valores mobiliários em meio a impulso regulatório global
Reguladores em todo o mundo estão fortalecendo a supervisão de ativos digitais, com o Japão se preparando para uma das reformas mais abrangentes já realizadas.
A Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO) tem incentivado uma coordenação global mais forte contra abusos no mercado de cripto, enquanto a União Europeia implementou sua regulamentação Markets in Crypto-Assets (MiCA).
Nos EUA, reguladores estão expandindo a autoridade após a aprovação de ETFs de Bitcoin à vista, e a Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC) recentemente lançou um novo “Crypto Sprint” para moldar a supervisão federal.
Elsewhere, governments are taking diverse approaches. In June, o Banco Central do Bahrain introduziu o primeiro arcabouço de stablecoin da região, exigindo que emissores mantenham reservas 1:1 apoiadas por ativos líquidos e obtenham licenças antes de operar.
No mês seguinte, o Paquistão estabeleceu sua Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais (PVARA) para licenciar e monitorar firms cripto, enquanto a Hungria foi além, criminalizando atividades cripto sem licença com penas de até oito anos de prisão.
Hong Kong também lançou um regime de licenciamento para emissores de stablecoins lastreadas em fiat, com efeito a partir de 1º de agosto.
Diante desses movimentos, o Japão está se preparando para alterar sua FIEA para classificar criptomoedas como produtos financeiros, sujeitando-as à lei de valores mobiliários.
Japan has proposal to reclassify crypto as financial products and subject them to insider trading restrictions. #JapanCrypto #InsiderTradingLaws
A FSA deve apresentar um projeto de lei já em 2026, uma medida que ampliaria as restrições de negociação com informações privilegiadas e os requisitos de divulgação já aplicados nos mercados de ações.
Se aprovado, as reformas proibiriam o uso de informações não públicas na negociação de cripto e imporiam uma supervisão mais rígida sobre as exchanges. Até agora, ativos digitais operaram sob um conjunto paralelo de regras, com ferramentas de aplicação limitadas contra más condutas.
Emissores de tokens de captação enfrentariam obrigações rígidas de divulgação, enquanto as exchanges seriam responsáveis por fornecer informações precisas sobre tokens descentralizados.
O Japão também está se preparando para aprovar sua primeira stablecoin lastreada em iene, com a fintech JPYC prevista para lançar o produto ainda neste ano.
O ministro das Finanças Katsunobu Kato sinalizou apoio a tornar cripto parte de carteiras diversificadas, desde que existam salvaguardas adequadas.
Juntas, as medidas marcariam uma mudança acentuada na abordagem regulatória do Japão, alinhando-a mais estreitamente com os esforços globais para trazer ativos digitais sob a supervisão financeira tradicional.
A postagem Japan Moves Crypto Under Securities Law — Massive Crackdown Imminent? apareceu pela primeira vez no Cryptonews.